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JOSÉ VERÍSSIMO

JOSÉ VERÍSSIMO

JOSÉ VERÍSSIMO DIAS DE MATOS (1857 - 1916)

 

José Veríssimo Dias de Matos, conhecido pelo público geral apenas como José Veríssimo, paraense da cidade de Óbidos; nasceu em 8 de abril de 1857 e faleceu no dia 2 de fevereiro de 1916. Iniciou seus estudos entre Belém/PA e Manaus/AM quando aos seus “12 anos de idade é mandado sozinho para a Corte, a fim de estudar os preparatórios” (BRANDÃO, 1987, p. 17). Também foi aluno da Escola Central, atualmente Escola Politécnica no Rio de Janeiro, retornando à Belém por volta de 1876 aplicando-se à docência e tendo participação como colunista de jornais locais, além de que fundou uma revista chamada, Revista Amazônica e um colégio, Colégio Americano. Além do mais, foi jornalista, professor, educador, crítico e historiador literário, bem como, membro da Academia Brasileira de Letras, onde participou integralmente de todas as sessões preliminares de sua instauração, onde ocupou a cadeira de nº 18 (ABL, s/d).

O Pará nessa época, vivia em meio à uma grande ebulição cultural e econômica com o trânsito muito grande de estrangeiros; porém a educação não acompanha esse ritmo, apesar de serem encontrados aqui personagens que se destacavam pelo seu brilhantismo intelectual, como é o caso de José Veríssimo, que desta forma ocupa a vaga pedagógico como intelectual na educação paraense, especificamente com respeito ao método intuitivo ao instituí-lo como método oficial de ensino no Pará. Assim, em 1889 vice-presidente da província do Pará, Dr. José de Araújo Roso Danin constata que nesta província há um quadro de catástrofe geral na qualidade do ensino, “a instrucção pública n’esta província está num verdadeiro cáhos” (PARA, 1889, p. 18).

 

Roso Danin diz que apesar da obrigatoriedade do ensino determinado na lei nº 1030 de 07 de maio de 1880 cerca de quase 10 anos atrás, as sucessivas reformas executadas não surtiram efeito algum no sentido de melhoria da qualidade na instrução pública, pois estas reformas foram mal elaboradas (MACHADO, 2018, p. 80).

 

Segundo Roso Danin, as reformas anteriores foram feitas sem critérios e suas implementações causaram desordem no ensino público, como falta de direção em decorrência de nomeações de pessoas qualificadas para os cargos, assim convém sua reformulação.

Nesta ocasião, Roso Danin, ao saber da viagem de José Veríssimo à Paris, França, para participar da Exposição Universal em 1889, o delegou a responsabilidade de verificar o funcionamento do ensino primário naquele país. Para isso, Danin enviou à José Veríssimo o seguinte ofício,

1ª Secção nº 3.355. – Palácio da Presidência o Pará, 15 de julho de 1889.

 

Ilm. Sr. – Sabendo que tem V. S. de brevemente seguir para Paris, a convite da sociedade Antropologica, a fim de tomar parte no congresso que ella vai realizar na epocha da exposição, resolvi incumbi-lo de, como comissionado desta província, estudar a secção de instrucção publica na Exposição, tendo principalmente em vista: a organização do ensino primário, escólas normaes, ensino technico, archtectura escolar, methodos e aparelhos pedagógicos, ensino mixto e educação física e outros assuntos concernentes a instrucção publica.

Do patriotismo e illustração de v. s. espero a aceitação d’esta comissão, cujo desempenho será um relevante serviço a nossa província.

Junto encontrará v. s. os officios de apresentação que dirijo ao nosso ministro em Paris e ao presidente do Comité brasileiro. – Deus guarde v. s. – José de Araújo Rosa Danin. – Sr. Commendador José Veríssimo[1]. (PARÁ, 1889, p. 18-19).

 

Em seu retorno ao Pará e assumindo o cargo de diretor geral da Instrução Pública, nomeado por Justo Leite Chermont[2], Veríssimo elaborou o documento de reforma da educação no Pará, denominado de Ensino primario regulamento escolar, programas, horarios e instruções pedagogicas para as escolas publicas do Estado do Pará (PARÁ, 1890) –(https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/219855).

José Veríssimo participou ativamente da elaboração dessa proposta educacional no Estado do Pará; além de assumir cargos no aparelho estatal, como diretor geral da instrução pública, no período em que Justo Leite Chermont[3] foi escolhido governador do estado do Pará em 1890 em decorrência da instauração da República.

O referido documento foi obtido na Seção de Obras Raras da Biblioteca Arthur Vianna da Fundação Cultural do Estado do Pará e está divido em diversas seções, ou 47 artigos com as orientações das mais diversas sobre a educação no ensino primário no Pará (MACHADO, 2020), dentre as quais destacamos aqui algumas seções ou partes, relacionadas ao documento.

O referido documento, além de conteúdos ao ensino de matemática, apresenta ainda sugestões bibliográficas e orientações pedagógicas baseadas nos moldes das escolas primárias francesas, como afirma o próprio José Veríssimo,

 

(...) eu não podia melhor fazer do que transladar para uso do professorado primário do Pará as instrucções e direcções pedagógicas, com fim idêntico redigidas em França, por um dos mestres mais eminentes da pedagogia contemporânea, o sr. Gréard. (PARÁ, 1890, p. 31, grifo nosso).

 

A pessoa acima citada por José Veríssimo, é Otave Gréard (1828-1904), apontado como responsável pela organização e estruturação didática educativa do Ensino Primário na França. Sendo sua proposta focada na aprendizagem integral. A princípio, sua proposição educativa foi elaborada para as escolas de Sena, porém, se espalhou posteriormente para diversas partes do mundo. Foi ele que propôs que o Ensino Primário deveria ter três cursos, (elementar, médio e superior). Foi exatamente assim, que José Veríssimo estruturou sua proposta no que diz respeito às escolas populares do Pará que se fundamentam em três princípios da concepção pedagógica de Gréard: a) princípios indispensáveis para a classificação dos alunos; b)propostas de estudos para cada curso; c)orientações referentes ao uso do tempo (MACAHDO, 2018).

Além do mais o Regulamento Geral da Instrucção Publica e Especial do Ensino Primario do Estado do Paráem seu artigo 15 explicitava a decisão de que “Nenhum livro ou brochura, impresso ou manuscripto, estranho ao ensino, poderá ser introduzido na escola sem a autorização escripta do Director Geral.” (PARÁ, 1890, p. 6). Assim,

 

Essa determinação foi um marco fundamental no que diz respeito a utilização dos manuais pelos professores, pois era comum que o cada professor preparasse seu próprio material. Isto impulsionou a produção de manuais didáticos no Pará, uma vez que eles poderiam ser adotados pela diretoria de instrução pública para serem distribuídos nas escolas, porém, ainda assim, somente para os professores. Desta forma, muitos autores (Tito Cardoso, Cézar Pinheiro, J. M., etc) procuram produzir manuais didáticos, desta forma não somente para uso pessoal, pois eram professores das escolas públicas no Pará, mas, para venda direta ao poder público ou disponibilizá-los nas livrarias. (MACHADO, 2020, p. 14).

 

O tempo de duração das aulas achava-se descrito no mesmo documento, sendo de 4 horas a sua duração, dividida em tempos de 45 minutos cada aula, e o ensino do cálculo era logo na aula inicial.

Especificamente para o ensino de matemática, no primeiro, segundo e terceiro anos das escolas elementares, em seu artigo IV as determinações elaboradas por José Veríssimo, eram as seguintes:

Nos três anos, a aritmética era o centro da abordagem, sendo que no primeiro ano o enfoque recaia em aritmética e cálculo com destaque ao método intuitivo sobre as primeiras noções de cálculo, além de contagem de 1 a 100, contagem de objetos, pessoas, etc. Também se dava ênfase à exercícios de adição e subtração com uso de material concreto. Além do mais, se iniciava a grafia dos números por meio de exercícios; cálculos orais de números pequenos, multiplicação de até dois algarismos, resolução de problemas simples do cotidiano (PARÁ, 1890).

No segundo ano, novamente se recorria à aritmética fazendo-se uma revisão do ano anterior por meio da formulação de problemas. Além disso, introduzia-se a divisão por até dois algarismos (PARÁ, 1890).

Igualmente aos anos anteriores, no terceiro ano, a aritmética era aludia ao sistema métrico decimal com exercícios e problemas sobre medidas e cálculos, além de conversões de medidas. Também se explorava proporções, regra de três e de juros (PARÁ, 1890).

Ainda no artigo IV, para a Escola popular, nos Curso Elementar, Curso Médio e Curso Superior, respectivamente, o referido programa estabelecia:

No Curso Elementar, a ênfase é dada ao cálculo pelo método de Calkins com contagem até 100 feita por meio de objetos, pessoas, etc. Introduziam-se exercícios de adição e subtração pelo mesmo método, além da grafia de números até dezenas de milhar e cálculo mental. Também se iniciava a multiplicação e divisão com um e dois algarismos (PARÁ, 1890).

Para o Curso Médio, se destacava a aritmética com uma revisão do segundo ano do curso elementar, cálculo mental, introdução da ideia de frações ordinárias e decimais; aplicação das quatro operações; sistema métrico decimal com suas principais unidade, múltiplos e submúltiplos; razões e proporções; regra de três; regra de juros simples (PARÁ, 1890).

Ainda no curso médio aparece pela primeira vez o estudo da geometria, além da aritmética que é comum nos demais anos ou curso tanto das escolas elementares como da escola popular. “V – Geometria pratica. – As linhas. – Os polygonos. – Construcções no quadro preto. – Medição das áreas dos polygonos. – Exemplos práticos. – Medição da sala da escola, do quintal, etc.” (PARA, 1890, p. 20).

O que se estabelecia para o curso superior em termos de aritmética era primeiramente uma revisão do curso médio. Depois, se trabalhavam com problemas e cálculos repetidos; quadrado e raiz quadrada; cubo e raiz cúbica. Além do mais, no curso superior se abordava noções práticas de escrituração mercantil com utilização de livros caixa, razão e diário, bem como, dever e haver; exercícios práticos sobre o livro caixa; lançamento e suas fórmulas praticas; contas correntes e problemas de cálculo comercial. (PARÁ, 1890).

Essas especificações de conteúdos matemáticos encontradas no Regulamento Geral da Instrucção Publica e Especial do Ensino Primario do Estado do Pará, formuladas por José Veríssimo, aparecem mais tarde nos manuais escolares destinados ao ensino primário no estado do Pará. Também ressaltamos, que neste período, o Pará vivia uma efervescência cultural e econômica com a vinda de muitos estrangeiros para estabelecer relações de negócios comerciais e, nesse sentido, circulavam moedas de diversos países, bem como se utilizavam de diversas medidas do sistema métrico e, para isso, os jovens precisavam ser preparados para assumirem cargos que demandavam entendimento de escrituração comercial etc.

 

Referências

 

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - ABL. Biografia – José Veríssimo. Disponível em: <http://www.academia.org.br/academicos/jose-verissimo/biografia>. Acesso em: 28 de dez. 2020.

BRANDÃO, Antonio Adelino Marques. José Veríssimo e a educação nacional. Prêmio grandes educadores brasileiros: monografias premiadas 1986. Brasília, INEP, 1987.

MACHADO, B. F. Saberes elementares aritméticos em manuais didáticos do curso primário produzidos no Pará (1850-1950). Tese de doutorado apresentada no Instituto de Educação Matemática e Científica da UFPA: Belém/Pará, 2018.

MACHADO, B. F. José Veríssimo – O expert da reestruturação do Ensino no Pará (1890). REMATEC, v. 15, n. 34, p. 09-29, 31 ago. 2020. Disponível em: <http://www.rematec.net.br/index.php/rematec/article/view/260/208>. Acesso em: 15 de jan. 2021.

 

Fontes Consultadas

 

PARÁ. Relatório. José de Araújo Roso Danin. Belém: Typographia de A. Fructuoso da Costa, 1889. In: Provincial Presidential Reports (1830-1930): Center for Research Libraries. Disponível em: <http://www-apps.crl.edu/brazil/provincial/par%C3%A1>. Acesso em: 13 de jan. 2016.

PARÁ. Direção Geral da Instrução Pública. Ensino Primário: regulamento escolar, programas, horário e instruções pedagógicas para as escolas públicas do Estado do Pará. Belém: Imprensa de Tavares Cardoso & Cia, 1890. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/219855>. Acesso em: 16 de jan. 2021 –

 

Notas

 

[1] De acordo com a grafia da época

[2] Governou o Pará de 17 de dezembro de 1889 a 7 de fevereiro de 1891.

[3] Governou o Pará de 17 de dezembro de 1889 a 7 de fevereiro de 1891.

 

Benedito Fialho Machado

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