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EVA MARIA SIQUEIRA ALVES

EVA MARIA SIQUEIRA ALVES

EVA MARIA SIQUEIRA ALVES (1956 - ....)

 

Eva Maria Siqueira Alves nasceu em Aracaju – Sergipe, em 13 de junho de 1956. Cursou o primário e o ginasial no Colégio Salvador, indo em seguida para o científico no Colégio Estadual Atheneu Sergipense. Ingressou no curso de Licenciatura em Matemática, concluído em 1984, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Na referida instituição fez o mestrado em Educação (1996). E o doutorado foi realizado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no Programa de Pós-graduação em Educação, História, Política e Sociedade, concluído em 2005.

Eva atuou como professora de Matemática do 1º grau da Rede Estadual de Sergipe (1984 a 1997) na Escola Estadual Gonçalo Rollemberg Leite. Em 1995 ingressou na Universidade Federal de Sergipe como professora do Departamento de Educação (DED) e atuou até aposentadoria, como titular, em 2017. Ao assumir a docência no referido Departamento, Eva assumiu a partir de 1997 disciplinas como Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Matemática (posteriormente denominada Alfabetização Matemática) e Avaliação Educacional, disciplinas do Curso de Pedagogia do DED/UFS. E como docente da UFS foi chefe do DED/UFS (2005 a 2007), coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação (2009 a 2013), coordenadora do Fórum de Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em Educação das Regiões Norte e Nordeste (FORPRED N/NE - 2012 a 2013). Atuou também como coordenadora no período de 2008 a 2010 do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação na elaboração dos Planos de Ações Articuladas - PAR em Sergipe, uma pareceria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), UFS e Secretaria de Estado da Educação (SEED).

A trajetória de atuação pode ser acrescida ainda com as seguintes funções: Líder do Grupo de Pesquisa Disciplinas Escolares: História, Ensino, Aprendizagem (CNPq/UFS) (2005 a 2020), Representante Titular da Universidade Federal de Sergipe no Conselho Municipal de Educação de Aracaju (24/06/2014 a 24/06/2018), Presidente do Conselho Municipal da Educação de Aracaju (06/8/2015 a 10/08/2017). Além de atuar como membro das sociedades: Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM); Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE); Sociedade Brasileira de História da Matemática (SBHMat); Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); Associação Nacional de História (ANPUH); Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Representante Titular da Universidade Federal de Sergipe no Conselho Estadual do FUNDEB-SE (09/2009 a 11/2014), além de sócia fundadora e dirigente da Sociedade Brasileira de Educação Matemática - Regional Sergipe (2006-2012).

Um destaque em sua trajetória deve ser efetuado em relação ao período de 2005 a 2020, quando atuou também como Coordenadora do Centro de Educação e Memória do Atheneu Sergipense (CEMAS) por meio do termo de cooperação técnica firmado entre a SEED e a UFS. Nessa função organizou o acervo histórico da instituição, e a partir das fontes organizadas orientou e desenvolveu pesquisas no formato de dissertações, teses e publicações comemorativas dessa instituição de ensino, referência para a história da educação em Sergipe[1]. Vale destacar que, como pesquisadora, Eva também desenvolveu investigações financiadas pelo CNPq com resultados como o apresentado em 2008 por meio de uma publicação intitulada "Professores de Matemática do Estado de Sergipe: formação, concepções, perspectivas".

Apesar dessa trajetória de atuação no ensino superior e na formação dos pedagogos, o destaque neste verbete para a sua condição de uma expert é anterior a esse momento, iniciada com sua ação em aulas de Matemática. Foi a partir de uma prática diferenciada como professora de Matemática em turmas de 5ª a 8ª série da Escola Estadual Gonçalo Rollemberg Leite que foi convidada a atuar como coordenadora do Núcleo Central de Matemática (NCM). Tal afirmativa está baseada em textos como o de Alves (2001), de Santos (2012) e de informações coletadas por meio de uma entrevista semiestruturada com a professora Eva[2]. Ao exercer a docência em turmas do primeiro grau a partir de 1984, a professora Eva foi, aos poucos, procurando outras formas para mobilizar os alunos, para fugir de uma aula de Matemática no modelo tradicional, com o intuito de contribuir para que os alunos tivessem a possibilidade de aprender conteúdos matemáticos. E a professora Eva relata que

 

[...] observando criticamente o cotidiano de sala de aula e por não concordar com a prática pedagógica tradicional, estática, com o trabalho realizado de forma excessivamente centralizada na figura do professor, no qual o aluno é passivo, submisso, ouvindo e obedecendo, sendo portanto heterônomo, busquei meios para cambiar essas ações por outras que possibilitassem aos alunos gostar das aulas, ter interesse em frequentá-las e estudar os conteúdos , minimizando os traumas e medos matemáticos [...] fui modificando minha prática em sala de aula , até que optei por utilizar estratégias lúdicas no ensino de matemática [... ] Unindo essas duas paixões - ensinar matemática e jogar -, criei, adaptei e apliquei alguns jogos a conteúdos matemáticos de 5ª a 8ª série. Essa foi uma etapa do processo, importante, necessária e de valiosa contribuição para o meu crescimento (ALVES, 2001, p. 12-13).

 

E nos idos de 1988 a então professora de Matemática foi convidada para atuar como formadora. Qual o motivo para o convite? Ao ser questionada, Eva informou que não recorda sobre quem a convidou, só lembra que começou a coordenação com dois outroscolegas, Rafael e Marlene Ralin. Esses professores fundaram o Núcleo Central de Matemática (NCM), proposta dos gestores do Departamento de Educação da Secretária de Estado e Cultura do Estado de Sergipe que estavam organizando uma estrutura para os diferentes componentes curriculares (Geografia, História, Ciências, Religião) de modo a dinamizar estudos das áreas, promover cursos de formação e elaborar uma Proposta Curricular para o Estado de Sergipe. Nos diferentes núcleos, havia um professor da Universidade Federal de Sergipe, exceto no de Matemática, na ocasião Eva ainda não era docente dessa instituição.

Vale ressaltar que a proposta de criação dos núcleos, segundo Santos (2012), foi inspirada em estudos desenvolvidos no Instituto de Educação Ruy Barbosa, que possuía em sua estrutura um Centro de Estudo para propor uma reforma curricular. A partir desse modelo gerado na escola, foram criados núcleos para as disciplinas já citadas. De acordo com Santos (2012) os gestores do DED e da SEED entendiam a ação dos Núcleos como uma modalidade de formação continuada para a rede estadual. O Núcleo deveria funcionar como espaço de atualização dos educadores e instrumento de melhoria das condições de trabalho a partir do empenho dos próprios professores, que deveriam entender a proposta como uma conquista.

Ao que tudo indica, a partir da coordenação inicial da Professora Eva, junto com os colegas, foi estabelecida uma proposta para o funcionamento do Núcleo em um documento intitulado “Proposta do Núcleo Central de Matemática”[3] . No referido documento são apresentados dois objetivos gerais: melhorar a qualidade do ensino de Matemática nas escolas da rede pública estadual e funcionar como um espaço de estudo, discussão e troca de experiência. Além de objetivos específicos: a) promover cursos de reciclagem, encontros e seminários; b) promover o intercâmbio de ideias e experiências entre professores a nível estadual e interestadual; c) acompanhar as ações didático-pedagógicas dos professores, no sentido de apoiá-los oferecendo inclusive subsídios; d) analisar livro-texto; e) formar uma biblioteca que sirva como fonte de subsídio para os professores. Para atingir esses objetivos a professora Eva atuavam em uma coordenação geral ligada à Diretoria Geral de Educação e cada escola contava com um coordenador eleito. Os coordenadores das escolas deveriam atuar como elo entre os professores de Matemática da escola para operacionalizar as atividades propostas pela coordenação do Núcleo, desde a elaboração de planos de curso, discussão sobre dificuldades relacionadas à abordagem dos conteúdos e soluções encontradas, até a participação em encontros, reuniões, cursos, enfim qualquer ação que buscasse uma melhoria na qualidade do ensino de Matemática em Sergipe. Segundo a professora Eva, foi um momento muito dinâmico, pois os professores tinham interesse, eles queriam aprender algo, não era aprender conteúdos matemáticos, eles eram formados em Matemática, o anseio era aprender e debater aspectos relacionados às rotinas de sala de aula e sobre tendências metodológicas que estavam sendo discutidas no âmbito da Educação Matemática no Brasil.

Vale ressaltar que 1988 foi o ano de criação da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM) durante a realização do II Encontro Nacional de Educação Matemática, em Maringá – Paraná, e a partir dessa criação começa, no caso do Brasil, a realização de uma série de eventos em que os problemas e pesquisas realizadas sobre os processos de ensino e aprendizagem do ensino de Matemática ganharam fóruns específicos. E no caso de Sergipe, em 30 de setembro de 1988 foi criada a Sociedade Brasileira de Educação Matemática – Secção Sergipe, e no ato de abertura a professora Eva estava presente. E parece que essa aproximação com a Educação Matemática veio a contribuir para a organização e propostas do Núcleo Central de Matemática, pois segundo o que está posto em Souza et al (1993) as atividades do Núcleo Central de Matemática (NCM) foram iniciadas em abril de 1988, e desde a formação foram promovidos cursos, debates, reuniões pedagógicas, palestras, seminários, para a discussão de temas como: problemas em sala de aula, livro didático, abordagens metodológicas, reflexões sobre educação matemática. Segundo essas autoras foi durante a realização dessas atividades que foi apontada a necessidade de elaborar ou reelaborar uma proposta curricular de Matemática, já que a proposta em vigor datava do ano de 1973, e não mais atendia as necessidades principalmente em relação à forma de abordar os conteúdos matemáticos. Constata-se que no cenário sergipano aparece dois elementos que podem ter contribuído para o processo de elaboração de uma Proposta Curricular, a criação do NCM, que possibilitou a mobilização dos professores de Matemática, e a oficialização da SBEM, o que ampliou debates sobre Educação Matemática.

E aqui vale destacar o investimento pessoal efetuado pela professora Eva, que intensificou o processo de formação continuada para melhor atuar na coordenação do NCM, no sentido de ampliar a participação em eventos científicos, encontros de Educação Matemática e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Disposta a ampliar seus conhecimentos, em tais eventos, adquiriu livros referentes à formação de professores e educação matemática, construindo dessa forma uma biblioteca diversificada que subsidiou suas aulas e cursos, além de disponibilizar para os alunos e colegas professores. “A professora Eva foi quem trouxe isso, porque ela tinha mais acesso, ela viajava. Então, por ela ter essa acessibilidade, ela repassava para a gente e a gente estudava. Ela tinha condições de comprar livros, então ela nos emprestava e a gente fazia uma troca e terminava crescendo junto com ela. (E2, 2011, apud SANTOS, 2012, p. 74).

Constata-se a partir das fontes consultadas que, além de cuidar da própria formação, a professora Eva colocou no rol de suas atribuições dar visibilidade às propostas desenvolvidas no âmbito do Núcleo em eventos locais e nacionais, destacando as atividades e a necessidade da elaboração de uma proposta curricular. Por exemplo, em 1994, foi possível identificar duas publicações de divulgação sobre o NCM, na SBPC realizada na cidade de Recife - Pernambuco.

 

O Núcleo Central de Matemática (criado em1988) vem desenvolvendo uma pesquisa com os professores de Matemática, através de cursos, reuniões e oficinas pedagógicas com o objetivo de detectar: os métodos mais frequentes utilizados em sala de aula – as necessidades e reclamações do professor. Baseadas nas analise, emergiram questões quanto a necessidade de reformular a Proposta Curricular. Uma das metas do projeto é a discussão e reflexão da fundamentação teórica das diferentes correntes metodológicas através das oficinas pedagógicas que ocorrem quinzenalmente. Essas oficinas são desenvolvidas a partir de temas previstos em pequenos grupos, que criam atividades, formulam jogos, pesquisam a história do tema. Nessa perspectiva, o educador se arisca a enfrentar situações novas com as quais não sonhava. Ele permite aprender mais, através da observação e das hipóteses do grupo, propiciando condições para que a sua prática em sala de aula reconheça esse mesmo ato pedagógico na aprendizagem (ALVES et al, 1994, p. 214).

 

Constata-se pelo que está posto nessa citação que seis anos após a criação do Núcleo, continuava a busca sobre aspectos relacionados a uma fundamentação teórica para alicerçar a Proposta Curricular. E no mesmo evento da SBPC, a professora Eva apresentou outro trabalho, versando agora sobre as oficinas.

 

Em abril de 1988, o Núcleo de Matemática iniciou suas atividades, envolvendo professores da Rede Estadual, através de seminários, reuniões pedagógicas, cursos, promovendo reflexões sobre a educação Matemática. Nesses eventos detectou-se a necessidade de reelaborar a Proposta Curricular, traçando-se , então , caminhos para desenvolver o trabalho - pesquisar e analisar as tendencias filosóficas curriculares - revisar a seleção de conteúdos - elaborar sugestões metodológicas , considerando as experiências vivenciadas em sala de aula - pesquisar e criar estratégias para a cada série – discutir a proposta através de encontros para professores da capital e do interior – analisar e encaminhar correções. Durante o ano de 1993, o trabalho foi apresentado aos professores através de encontros e oficinas pedagógicas, com ampla análise e discussão. Em 1994, vários professores estão aplicando em sala de aula as sugestões contidas na proposta, retornando a equipe para discussões e correções. Assim a Proposta Curricular de Matemática de 1ª a 8ª série, do estado de Sergipe[4] caracteriza-se como um documento de reflexão que considera o conhecimento em constante construção e os indivíduos num processo de interação social com o mundo, em que reelaboram, complementam, analisam, avaliam e sistematizam seus conhecimentos (ALVES et al, 1994, p. 219-220).

 

Advoga-se aqui que o processo da elaboração da Proposta Curricular de Matemática de 1ª a 8ª série é resultante da circulação de debates nos limites do estado de Sergipe e do Brasil. Dito de outra forma, no caso da professora Eva, parece que dois caminhos são passíveis de serem identificados na atuação dela como uma expert que buscou aperfeiçoar sua expertise. Constata-se um esforço da professora Eva para a mobilização de colegas professores de Matemática por meio da realização de encontros, cursos e oficinas em Aracaju e em outros municípios sergipanos a exemplo de Propriá, Gararu, Itabaiana, Nossa Senhora das Dores. E por outro lado, é possível identificar, por meio de depoimentos de colegas e da própria professora Eva, a participação dela em eventos locais e nacionais em busca de ampliação da sua expertise ou formação continuada. Tal afirmação também foi constatada por Santos (2012) ao afirmar que integrantes do NCM participaram de debates sobre o tema desde o II Encontro Nacional de Educação Matemática ocorrido em Maringá - Paraná, no ano de 1988. Embora a professora Eva Maria Siqueira Alves seja uma das pessoas mais citadas na realização de viagens para a participação em eventos de divulgação de trabalhos relacionados com a Educação Matemática, foi possível identificar outros participantes que também iam buscar, fora de Sergipe, livros, formações continuadas, ideias que propiciavam a apropriação de saberes relacionados a Educação Matemática a exemplo: Ivanete Batista dos Santos, José Maria Fernandez Corrales Filho e professores da Universidade Federal de Sergipe.

Por meio da participação nos eventos, a professora Eva acabou criando também uma rede de sociabilidade com divulgadores da Educação Matemática no Brasil, pois teve contato com pesquisadores como Nilza Eigenheer Bertoni (Brasília), Maria do Carmo Domite (São Paulo), Paulo Figueiredo Lima (Pernambuco), Irineu Bicudo (São Paulo), Lourdes de La Rosa (São Paulo), Beatriz D’Ambrósio (São Paulo), Regina Célia Santiago do Amaral Carvalho (São Paulo). Esta última, segundo a professora Eva, foi fundamental no processo de elaboração da Proposta Curricular para o Estado de Sergipe, foi a professora Regina Célia que apresentou e orientou leitura de textos como o Constance Kamii, o que permitiu uma aproximação com temáticas discutidas no âmbito da Educação Matemática. Vale destacar que a professora Eva afirma ter começado a trabalhar com princípios da Educação Matemática sem saber, pois quando fez a licenciatura não tinha disciplinas como Laboratório do Ensino de Matemática, História da Matemática. A partir das leituras e da participação em eventos é que começou a ocorrer a imersão no campo que foi, de certa forma, sistematizado na Proposta Curricular. Constata-se a partir das informações coletadas junto à professora Eva que a atuação como coordenadora de NCM exigiu que ela buscasse aprofundamento na sua formação por meio da

participação em eventos e na busca constante de referências bibliográficas[5]. Além das leituras para a elaboração da Proposta Curricular, foi importante que os participantes das reuniões quinzenais funcionassem como um grupo de apoio, sendo que muitas das propostas sistematizadas foram postas em experimentação em diferentes escolas com o intuito de verificar como funcionaria quando aplicada em uma sala de aula.

Constata-se, a partir de relatos, que a professora Eva recorda com riqueza de detalhes sobre a sua atuação no NCM e na elaboração da versão preliminar da Proposta Curricular[6] que, desde o início do processo, foi anunciada em eventos nacionais, como a SBPC (1993) e o II Congresso Ibero-Americano de Educação Matemática (1994). Um aspecto que deve ser destacado no processo de elaboração da proposta foi o contato que estabeleceu com colegas de outros estados da federação e por meio deles foi recebendo, pelos Correios, propostas de São Paulo, Fortaleza, Rio Grande do Norte e Pernambuco, pois em vários outros estados também estava ou já tinha ocorrido um movimento para elaboração de propostas curriculares. Apesar da participação em eventos, da compra de livros e dos contatos com pesquisadores de outros estados, a coordenação do Núcleo optou por contratar colaboradores como Maria do Carmo Domite Mendonça, que tratou principalmente sobre resolução de problemas, e posteriormente foi contratada como assessora a professora Regina Célia do Santiago Amaral Carvalho, que à época atuava na Secretaria de Educação de São Paulo, que atuou durante muito tempo com os participantes do NCM, na discussão sobre o que e como escrever em relação à sequência de conteúdos e de como abordá-los.

A professora Eva destaca a colaboração da professora Regina Celia e um texto de autoria de Ubiratan D’Ambrósio como dois aspectos que asseguravam a sintonia da proposta com temáticas discutidas no âmbito da Educação Matemática. Por meio do texto intitulado como “Aos professores de Matemática do Estado de Sergipe”[7] D’Ambrósio (1993) convocava o professorado sergipano a superar o conhecimento tradicional e incorporar as diversas etnomatemáticas de forma a superar a justificativa da falta de base dos alunos e a abordagem do conteúdo matemático de forma tradicional, para isso a recomendação era que o professor compartilhasse com seus alunos a percepção do sistema cultural, inclusive da etnomatemática, ao qual está o aluno está associado através de toda sua história de vida e de sua memória cultural. As palavras de uma referência nacional e internacional como a do professor Ubiratan D’Ambrósio serve para exemplificar a busca constante da expertEva Maria Siqueira Alves e dos membros do NCM por argumentos de autoridade para sintonizar a produção da proposta curricular com temáticas alicerçadas em princípios da Educação Matemática e divulgadas em diversos eventos da e sobre a Educação Matemática.

Foram localizadas duas propostas, uma versão preliminar (1993)[8] e uma mais completa (1995)[9] Na proposta datada de 1995 é possível identificar como coordenadoras do Núcleo Central de Matemática de Sergipe, a Professora Eva e a professora Denize da Silva Souza, e como consultora e assessora a professora Regina Célia Santiago do Amaral Carvalho (Secretária de Educação de São Paulo). A proposta está organizada com uma apresentação, com texto de autoria de D’Ambrósio, introdução, pressupostos teóricos, metodologia, conteúdos, relatos de prática e referências bibliográficas. Para este verbete vale destacar que na introdução há os indicativos que motivaram a ação e atuação da professora Eva, no caso a renovação de uma proposta datada de 1973 que precisava ser reelaborada para atender a novas perspectivas do ensino de Matemática no 1º grau, as especificidades da comunidade e da educação, a superação da fragmentação do conhecimento e a integração entre professores e alunos. Para produzir uma primeira versão, pelo que está posto na Proposta Curricular, foi preciso pesquisar, analisar as diversas tendências curriculares; revisar a seleção de conteúdos programáticos; elaborar sugestões metodológicas considerando as experiências já vivenciadas em sala de aula; pesquisar e criar estratégias que possibilitam a construção do conhecimento; discutir a Proposta Curricular com professores da capital e interior, permitindo a interação nesse dialogo; avaliar e encaminhar as necessárias correções surgidas nas discussões dos encontros; reavaliar as experiências curriculares vivenciadas em sala de aula, após as oficinas pedagógicas.

Com base no exposto em relação à atuação da professora Eva, é possível afirmar que a expertise necessária até a elaboração e sistematização da proposta exigiu uma formação continuada da professora de Matemática que atuava em turmas de primeiro grau, que precisou pesquisar, estudar e se apropriar de entendimentos que fugia do limite da formação inicial em Licenciatura em Matemática. Ao fazer isso é possível caracterizar a professora Eva Maria Siqueira Alves como uma expert que, ao atender o chamamento, mudou a sua trajetória de formação e atuação e a de um grupo de professores de Matemática vinculados ao Núcleo Central de Matemática de Sergipe, o que provocou alteração nos saberes profissionais de todos os sujeitos envolvidos – formadora, professores e professoras de Matemática, alunas e alunos.

 

REFERÊNCIAS

 

ALVES, Eva Maria Siqueira et al. Oficinas pedagógicas de Matemática: um caminho no processo de construção da proposta curricular. Anais do II Congresso Ibero-Americano de educação matemática, Blumenau, p. 214, 1994.

ALVES, Eva Maria Siqueira et al. Processo de construção da proposta curricular de Matemática do Estado de Sergipe. Anais do II Congresso Ibero-Americano de educação matemática, Blumenau, p. 219-220, 1994.

ALVES, Eva Maria Siqueira. A ludicidade e o ensino de matemática. São Paulo: Papirus Editora, 2001.

ALVES, Eva Maria Siqueira. Professores de Matemática do Estado de Sergipe: formação, concepções e perspectiva. Aracaju: Universidade federal de Sergipe, 2009.

NCM – Núcleo Central de Matemática. Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220341>

PROPOSTA CURRICULAR – versão preliminar. 1993. Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220340>

PROPOSTA CURRICULAR. 1995. Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220339>

SANTOS, Rone Peterson de Oliveira. Uma investigação sobre tendências metodológicas da educação matemática a partir das formações continuadas (Sergipe, (1988 a 2006). Dissertação - Programas de Pós-graduação em ensino de Ciências e Matemática, São Cristóvão - SE Universidade Federal de Sergipe, 2012.

SOUZA, Denize Silva Souza et al. Proposta curricular de Matemática o estado de Sergipe. Anais da 45º Reunião Anual da SBPC. 1993, p. 398.

 

ENTREVISTA

 

ALVES, Eva Maria Siqueira. Entrevista realizada pelo google meet em 12 e fevereiro de 2021.

 

Notas

 

[1] Para conhecer mais visitar CEMAS - Centro de Educação e Memória do Atheneu Sergipense - Atheneu Sergipense (maisatheneu.com.br). Ver também sobre o CEMAS no Repositório Institucional da Universidade Federal de Sergipe em Repositório Institucional da Universidade Federal de Sergipe - RI/UFS.

[2] Entrevista realizada em 16 de fevereiro de 2021.

[3] (<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220341>).

[4] (<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220339>).

[5] Ressalta-se que a partir de inquietações teóricas a professora Eva optou por buscar umaformação institucional e ingressou no mestrado em Educação da UFS. E por isso o afastamento das atividades do NCM. Sua dissertação tratou sobre jogos para o ensino de Matemática, prática desenvolvidas durante a atuação como professora no Colégio Estadual Gonçalo Rollemberg Leite. No ano de 2001 a pesquisa de mestrado foi publicada no formato de livro intitulado “A ludicidade e o ensino de Matemática: uma prática possível”.

[6] (<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220340>).

[7] (<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220339>).

[8] (<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220339>).

[9] (<https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220340>).

 

Ivanete Batista dos Santos

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