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NILZA EIGENHEER BERTONI

NILZA EIGENHEER BERTONI

NILZA EIGENHEER BERTONI

 

Nilza Bertoni nasceu em 15 de julho de 1936 em Mogi Mirim/SP. É bacharel e licenciada em Matemática pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, atual Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) de Rio Claro/SP (1962) e mestre em Matemática pela Universidade de Brasília (1973). Estudou no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e fez estudos sobre Álgebra na Universidade Tübingen, na Alemanha (de 1964 a 1966 e de 1978 a 1979, respectivamente). Recebeu o título de DOUTORA HONORIS CAUSA pela Universidade de Brasília (2010).

A professora Nilza Bertoni iniciou sua carreira docente aos 20 anos de idade e permanece produzindo trabalhos voltados à formação continuada de professores. Ela trabalhou em São Caetano do Sul/SP como docente da educação básica entre 1956 e 1958; em 1966, trabalhou na UNESP de Rio Claro/SP e, em 1967, iniciou seu trabalho como docente do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília (MAT/UnB) até se aposentar em 1992. Enquanto docente, sempre se empenhou em mostrar o sentido e a finalidade dos conteúdos matemáticos, para que, assim, fossem compreendidos pelos estudantes. (SOUZA et al., 2018).

No período entre 1968 e 1992, ministrou várias disciplinas no Departamento de Matemática da UnB (MAT/UnB): Cálculo I, Cálculo II, Cálculo III, Introdução à Álgebra Linear, Álgebra Linear I, Aplicações da Álgebra Linear à Geometria Euclidiana, Matemática I, Geometria Analítica e Cálculo Vetorial, Variáveis Complexas I, Introdução à Programação Linear e Geometria Projetiva.

Além dessas disciplinas, ela ministrou Seminário de Tópicos Especiais, Matemática para o Ensino de 2º Grau I, Matemática para o Ensino de 2º Grau II, Álgebra para o Ensino do 1º e 2º graus, Estágio em Laboratório de Ensino, Estágio de Pesquisa Bibliográfica sobre Ensino de Matemática, Estágio de Redação sobre Ensino de Matemática, Estágio Supervisionado de Regência em Matemática e Metodologia do Ensino da Matemática. A partir da reformulação da Licenciatura em Matemática da UnB, tais disciplinas entraram no currículo em 1985, o qual fora idealizado pela professora Nilza Bertoni. Segundo Gaspar et al. (2020), esse currículo “trazia em sua gênese a concepção de uma formação voltada para tomada de consciência da importância da escola na transformação da sociedade”.

A chegada de Nilza Bertoni à Brasília deu-se em meio à crise das universidades, devido ao golpe civil-militar de 1964. No que se refere à educação, nesse momento, entrava em voga no país a pedagogia tecnicista. Foi a partir desse modelo educacional que se criou um laço indissociável entre economia e educação. O país abriu-se para o exterior de modo que empresas internacionais pudessem se instalar aqui, o que fez com que o país tentasse gerar, por intermédio da educação básica, mão de obra para preencher o quadro dessas empresas.

Conforme Saviani (2007, p. 367),

 

difundiram-se, então, ideias relacionadas à organização racional do trabalho (taylorismo, fordismo), ao enfoque sistêmico e ao controle de comportamento (behaviorismo) que, no campo educacional, configuram uma orientação pedagógica que podemos sintetizar na expressão ‘pedagogia tecnicista’.

 

Nesse sentido, houve uma reforma na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 4.024/61, entrando em vigor a Lei 5692/71, que modificou a organização da educação básica, criando o 1º e o 2º graus. Essa organização do sistema escolar brasileiro favoreceu a disseminação da pedagogia tecnicista e a fragmentação dos objetivos da escolarização.

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980 começava no Brasil um processo de redemocratização, assim a matemática moderna já se fazia presente, mas também surgiam novas propostas curriculares embasadas na Educação Matemática (PIRES, 2008), a qual já vinha se instalando como área de pesquisa desde a I Conferência Interamericana de Educação Matemática (I CIAEM), realizada em 1961 na Colômbia.

No Brasil, em 1988, foi criada a Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM) que vinha sendo preparada, desde 1985, na VI CIAEM. Portanto, a fundação da SBEM acontece “num momento em que uma já existente comunidade de educadores matemáticos buscava um espaço, um discurso comum, uma identidade própria que os fortalecesse e os distinguisse na arena de embates do campo científico” (MUNIZ, 2013, p. 18). Dessa maneira, havia um impasse entre a proposta da pedagogia tecnicista, os ecos do MMM e a proposta da Educação Matemática quanto ao ensino e a aprendizagem de matemática na educação básica e na formação de professores.

Nilza Bertoni envolveu-se com o ensino de matemática no Distrito Federal, desde os anos 1980, quando começou a desenvolver um projeto entre a Universidade de Brasília (UnB) e a rede pública de ensino. Esse projeto, denominado “Um novo Currículo de Matemática da 1ª a 8ª série” – Subprograma Educação para a Ciência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior vinculado ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (SPEC/CAPES/PADCT)[1], era vinculado ao Ministério da Educação (MEC) e envolvia vários estados da federação. Esse Programa permitiu que os trabalhos desenvolvidos fossem socializados entre os participantes possibilitando a troca de experiências entre projetos. Também favoreceu o crescimento da comunidade de educadores matemáticos no país, a implementação de cursos de mestrado e doutorado nessa área, o apoio a bolsas de formação acadêmica em Educação Matemática no exterior (BERTONI, 2009). Em Brasília, a realização de cursos, palestras, encontros e seminários para professores promovidos pelo Projeto possibilitou a formação de um grupo de educadores interessados no desenvolvimento do ensino e da aprendizagem de matemática na educação básica do DF.

O Projeto foi muito importante para o desenvolvimento profissional da professora Nilza Bertoni devido ao interesse que despertava, quando ocorreu sua divulgação. Em uma entrevista concedida à Educação Matemática em Revista em 2003, a professora Nilza Bertoni contou que foi no calor das discussões nacionais e internacionais que se formou uma comunidade brasileira de educadores interessados em mudar o ensino da matemática, e que, mais tarde, fundaram a SBEM.

Foi nessa oportunidade que se constituiu, institucionalmente, a expertise de Nilza Bertoni. Momento em que suas análises sobre “a matemática a ensinar”[2] e “a matemática para ensinar”, no âmbito da universidade e na formação de professores, intensificaram-se. Momento de profundas contradições sociais, crises educacionais, levante militar sobre a UnB, mas também instante de reflexões e pesquisas sobre ensinar e aprender matemática, inclusive, com a institucionalização das novas disciplinas da licenciatura em Matemática do Departamento de Matemática (MAT/UnB).

Concomitante ao trabalho na formação inicial de professores no MAT/UnB, por meio do projeto “Um novo Currículo de Matemática da 1ª a 8ª série”, Nilza Bertoni conseguiu mobilizar a participação em cursos de extensão, seminários e atividades de pesquisa em salas de aula, um número representativo de professores que trabalhavam nas primeiras séries do 1º grau. A seguir, citamos trechos do ofício externo, de número 186, de 23 de dezembro de 1986, encaminhado à Nilza Bertoni pela professora Myrtes Mac Dowell, responsável pelo núcleo pedagógico da Fundação Educacional do Distrito Federal (FEDF). Nele podemos verificar a influência da professora Nilza na constituição de um saber a ensinar na região.

 

Vimos ressaltar junto a V. A. a importante participação da Universidade de Brasília na implantação do atual Programa Curricular da FEDF, através do projeto Um novo Currículo de Matemática do 1° Grau, sob sua coordenação.

A integração do referido projeto com a FEDF efetivou-se por meio de palestras, pelo oferecimento de cursos de extensão, cursos de aperfeiçoamento e consultorias.

Os cursos de extensão oferecidos aos coordenadores pedagógicos do 1º grau dos 16 Complexos Escolares da rede oficial de ensino do DF tiveram seus conteúdos repassados aos professores dos respectivos Complexos, retornando à Universidade com uma avaliação do trabalho proposto pelo projeto.

O trabalho de redefinição dos conteúdos programáticos realizado pela FEDF, embasado na atual Proposta Curricular que visa, fundamentalmente, a formação de um ser crítico e participativo, contou com a importante atuação de vários professores que haviam participado dos eventos realizados pelo projeto em pauta.

Em síntese, esse projeto possibilitou aos professores reflexões voltadas à realidade escolar, ao tipo de aluno que ora se pretende formar e ao tipo de aluno que a Matemática Moderna se endereçava.

Por outro lado, esse projeto possibilitou ainda uma real análise dos materiais didáticos utilizados na operacionalização do Conteúdo Programático de Matemática, dentre os quais os livros didáticos adotados pela rede oficial do DF. Destaca-se como ponto positivo, neste trabalho, a real contribuição dos professores ao oferecer alternativas de solução do ensino de Matemática no DF e não apenas apontar problemas (BRASÍLIA, 1986, grifos nossos).

 

Nilza Bertoni também participou do Comitê Assessor do Pró-Matemática na Formação do Professor. Esse projeto de cooperação educativa franco-brasileira foi implantado em dezembro de 1993 pela Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação e do Desporto (SEF/MEC) e estava “voltado à melhoria da formação inicial e continuada de professores para as séries iniciais do Ensino Fundamental” (BRANDT; ROSSO, 2010, p. 310).

Em um artigo publicado no Boletim no 1 PRÓ-MAT INFORMA, de julho de 1998, Nilza Bertoni explicou que o projeto estava gerando uma mudança nos conteúdos de matemática e de didática da matemática nas Escolas Normais do Distrito Federal (DF). Para isso, aconteciam reuniões quinzenais com os professores dessas disciplinas, a coordenação do Pró-Matemática pela Secretaria de Educação e a coordenação do Pró-Matemática pela UnB. As discussões mostraram que

 

o conhecimento de matemática do futuro professor deve conter, explicar, ampliar o conhecimento que ele deverá desenvolver junto aos seus futuros alunos, e que a metodologia para a aquisição desse conhecimento deve seguir os mesmos princípios daquela que deverá desenvolver em sala de aula, não se atendo apenas ao domínio de técnicas desprovidas de significado e de explicação lógica (BERTONI, 1998, p. 77).

 

Como podemos notar, chegou-se à conclusão de que não deveria haver uma ruptura entre o saber a ensinar e para ensinar, isto é, as aulas de matemática da Escola Normal deveriam ser ministradas da maneira como os estudantes deveriam praticar quando estivessem na docência, no entanto, os conteúdos matemáticos do ensino médio não poderiam ser deixados de lado e os conteúdos da 1ª a 4ª séries seriam trabalhados nas aulas de didática.

Ao analisarmos o artigo publicado no boletim e o “Currículo da Educação Básica das Escolas Públicas do Distrito Federal: curso normal em nível médio”, publicado em 2002, pudemos observar que as discussões realizadas no Pró-Matemática foram incluídas no currículo, pois 1) o projeto “Um novo Currículo de Matemática da 1ª a 8ª série” encontra-se na bibliografia da disciplina Metodologia da Matemática; 2) o objetivo geral da disciplina Metodologia da Matemática utiliza as mesmas palavras presentes no artigo; 3) as ideias de Nilza Bertoni sobre a importância da matemática para uma compreensão mais ampliada da sociocultura entendendo a matemática como uma atividade humana são encontradas no currículo; 4) alguns temas sugeridos pela professora Nilza Bertoni visando à aquisição de conhecimentos, tais como resolução de problemas, análise da produção dos alunos e história da matemática, podem ser encontrados na introdução do currículo da disciplina Matemática e, por fim, 5) ao que tudo indica, os conteúdos da disciplina Metodologia da Matemática seguem algumas propostas presentes no Projeto, tais como, a exploração de vivências a partir dos relatos dos alunos, a realização da comunicação de quantidades, a utilização da linguagem oral, a notação numérica e/ou registros não convencionais, a exploração de situações diversificadas e motivadoras, entre outras.

Podemos observar, conforme Carvalho (2017), que nos programas/currículos do Distrito Federal (DF) dos anos de 1962, 1963 e 1964, havia a indicação do uso do material concreto, no entanto, no currículo da rede pública de ensino, denominado “Desenvolvendo matemática na escola primaria”, de 1970, houve uma ruptura no que diz respeito a esse uso. Contudo, com o projeto “Um novo Currículo de Matemática da 1ª a 8ª série”, o uso de material concreto volta ressignificado, isto é, há a construção de materiais pelas crianças e a adesão de materiais da sociocultura (canudos, tampinhas, embalagens, jornais etc.).

Em 1998, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a professora Nilza Bertoni foi uma das consultoras do volume dedicado à Matemática.

Ainda em 1998, a professora Nilza participou da escrita do Guia de Estudo do PROFORMAÇÃO, módulo I e, em 2000, do módulo II. Esse programa tinha o objetivo de oferecer formação a distância, em nível médio, com habilitação em magistério, aos professores leigos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil (MENEZES, 2001).

A partir de 1999, Nilza Bertoni, juntamente com Cristiano Muniz, foi consultora da área de matemática do Programa de Gestão da Aprendizagem – GESTAR I, do MEC/FUNDESCOLA. O GESTAR I foi um conjunto de ações articuladas e desenvolvidas para professores de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental (hoje de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental) das escolas públicas do Brasil. Esse programa teve a finalidade de contribuir para a qualidade do atendimento ao aluno, reforçando a competência e a autonomia dos professores na sua prática pedagógica. Foi desenvolvido na modalidade de educação a distância, com momentos presenciais voltados para o acompanhamento da prática e o apoio à aprendizagem dos professores cursistas.

Nos anos 1999 a 2006, Nilza Bertoni trabalhou na elaboração de módulos de ensino semipresencial para professores de 5ª a 8ª séries (atualmente 6º ao 9º ano) da rede pública das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e na capacitação de formadores do Programa Gestão da Aprendizagem Escolar – GESTAR II.

O GESTAR II tinha, como objetivo específico de Matemática, tornar os professores competentes e autônomos para desencadear e conduzir um processo de ensino contextualizado, desenvolvendo as suas capacidades para o uso do conhecimento matemático, bem como para o planejamento e a avaliação de situações didáticas que articulassem atividades apoiadas em pressupostos da Educação Matemática.

 

Quadro 1 - Módulos escritos pela professora Nilza Bertoni para o GESTAR II.

 

Caderno de Teoria e Prática 1 - TP1

Matemática na alimentação e nos impostos

Cristiano Alberto Muniz e Nilza Eigenheer Bertoni

 

Caderno de Teoria e Prática 3 - TP3

Matemática nas formas geométricas e na ecologia

Ana Lúcia Braz Dias e Nilza Eigenheer Bertoni

 

Caderno de Teoria e Prática 4 - TP4

Construção do conhecimento matemático em ação

Cristiano Alberto Muniz, Celso de Oliveira Faria e Nilza Eigenheer Bertoni

 

Caderno de Teoria e Prática 5 - TP5

Diversidade cultural e meio ambiente: de estratégias de contagem às propriedades geométricas

Ana Lúcia Braz Dias, Celso de Oliveira Faria e Nilza Eigenheer Bertoni

 

Caderno de Teoria e Prática 6 - TP6

Matemática nas migrações e em fenômenos cotidianos

Nilza Eigenheer Bertoni e

Sinval Braga de Freitas

 

Fonte: Cadernos de Teoria e Prática do GESTAR II (http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/programas-e-acoes?id=13056).

 

Nilza Bertoni foi tutora do Curso de Pedagogia para Professores em Exercício no Início de Escolarização – Curso PIE/UnB/SEDF, que aconteceu no período de 2000 a 2006. Esse Curso foi oferecido pela Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), em parceria com a Faculdade de Educação da UnB, para dar formação em nível superior aos professores dos anos iniciais da rede pública que possuíam apenas formação em nível médio, atendendo assim aos imperativos da Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) – que, no § 4º, do Art. 87, previa que, ao final da década da educação, só seriam admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço.

O Curso PIE/UnB/SEDF propiciou a graduação em Pedagogia a dois mil professores da rede pública de ensino do Distrito Federal. Além de tutora, a professora Nilza também foi autora dos seguintes fascículos do curso:

 

Quadro 2 – Módulos escritos pela professora Nilza Bertoni para o PIE.

 

Módulo III – Volume 2 Educação e Linguagem Matemática 2

Numerização

Nilza Eigenheer Bertoni – UnB

Resumo: Enfatiza a construção do significado do número natural e de suas operações, dos conhecimentos prévios das crianças, da escrita numérica e das classes de situações aditivas e multiplicativas.

 

Módulo V – Volume 2 Educação e Linguagem Matemática 4

Frações e Números Fracionários

Nilza Eigenheer Bertoni – UnB

Resumo: Trata da construção do significado de frações e números fracionários e suas operações.

 

Fonte: Módulos do Curso de Pedagogia para Professores em Exercício no Início de Escolarização (PIE) (https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/222350 e https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/222351, respectivamente).

 

Ressaltamos que, no módulo V – volume 2, é evidente a inter-relação entre a matemática a ensinar e a matemática para ensinar na formação de professores, pois a professora Nilza Bertoni escreveu duas seções voltadas para o levantamento e para a reflexão das dificuldades quanto ao ensino e a aprendizagem dos números fracionários e aspectos adequados à aprendizagem e à compreensão dos alunos até a 4ª série do ensino fundamental (atual 5º ano). A última seção, seção voltada ao professor, intitulada “Revendo os conhecimentos do professor sobre números racionais”, cujo objetivo é “ampliar a visão sobre frações e números fracionários do professor”, levou em consideração dois aspectos, a compreensão e a atribuição de significados.

Por meio da parceria Universidade de Brasília – Centro de Educação a Distância e a Secretaria de Educação do Estado do Acre, que também tinha o objetivo de atender aos imperativos da Lei 9394/96, foi ministrado no Acre, na modalidade a distância, um curso semelhante ao oferecido no DF. Assim, os autores dos módulos, dentre eles Nilza Bertoni, fizeram adaptações nos seus materiais e esses circularam pelo estado do Acre.

De 2013 a 2018, a professora Nilza Bertoni aceitou o convite da Coordenação de Formação de Professores (CFORM), para ser a Coordenadora de Matemática do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) no Distrito Federal e Rondônia.

Em 2017, a Nilza Bertoni aceitou o desafio de ser uma das autoras do Caderno Consolidando Saberes. Esse caderno foi destinado aos professores de 4º e 5º ano, da rede pública do DF, e foi uma produção da Universidade de Brasília (UnB), Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM), Núcleo de Estudos e Acompanhamento das Licenciaturas (NEAL), Coordenação de Formação de Professores (CFORM) e Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEDF).

Nilza Bertoni, em 2018, foi convidada a ser uma das autoras da coleção Pensar, fazer, aprender, contribuindo para os seguintes cadernos: Pensar, fazer, aprender – 1º ano; Pensar, fazer, aprender – 2º ano; Pensar, fazer, aprender – 3º ano; Pensar, fazer, aprender – Organização do trabalho pedagógico – Caderno do professor. Esse material foi destinado aos estudantes e aos professores da rede pública do DF. Como podemos observar, Nilza Bertoni mantém a preocupação de relacionar os saberes a ensinar e para ensinar.

 

Sobre esse ponto, eu queria chamar a atenção, porque acho que é o princípio fundamental no que faço: sempre que eu penso em currículo para a escola básica, eu penso, também, no currículo de formação do professor; para mim, é uma coisa que não pode ser feita sem a outra. Pode até sair uma e depois outra, mas você tem que ter em mente que o seu objetivo é chegar nas duas (BERTONI apud SOUZA; BATISTA, 2020, p. 243).

 

A trajetória profissional de Nilza Bertoni e as suas palavras reiteram a articulação apontada por Valente (2018) entre os saberes a ensinar e para ensinar como uma característica da expertise profissional.

Em suma, pudemos constatar que, ao longo da sua carreira profissional, a professora Nilza Bertoni sempre se destacou em seu ofício, por seus conhecimentos, seus saberes, sua atuação docente, na produção de materiais para a formação continuada de professores e a sua capacidade de formar professores pesquisadores. Durante a análise da trajetória de Nilza Bertoni, percebemos que ela influenciou e promoveu mudanças na licenciatura em matemática da UnB, institucionalizando disciplinas e objetivando saberes por meio de pesquisas e de seu trabalho na formação inicial e continuada de professores que ensinam matemática, atendeu a várias convocatórias nacionais e distritais, fazendo circular ideias e princípios da Educação Matemática, a partir de sua emergência. Além disso, continua ativa e participando da elaboração de documentos ligados à sua expertise. A característica principal de seu trabalho é o cuidado para que os conteúdos matemáticos sejam compreendidos pelos docentes, formadores e estudantes. Suas produções incentivam à elaboração de hipóteses, à criação de estratégias, à reflexão sobre as práticas e à construção de conceitos matemáticos.

 

Referências

 

BERTINI, Luciane de Fátima; MORAIS, Rosilda dos Santos; VALENTE, Wagner Rodrigues. Matemática a ensinar e matemática para ensinar: novos estudos sobre a formação de professores. São Paulo: Livraria da Física, 2017.

BERTONI, Nilza Eigenheer. Mudança nos Conteúdos de Matemática e de Didática da Matemática no curso de Magistério: o exemplo do Distrito Federal. Boletim no 1 PRÓ-MAT INFORMA, p. 76-83, jul. 1998. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/222458/boletim%20promat%20jul%201998%20artigo%20mudan%c3%a7a%20nos%20conte%c3%bados%20magisterio%20p%2076%20a%2083.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 25 abr. 2021.

BERTONI, Nilza Eigenheer. Esclarecimentos. Destinatário: Carmyra Oliveira Batista. [S.l.], 03 abr. 2009. 1 mensagem eletrônica.

BRANDT, Célia Finck; ROSSO, Ademir José. Abstração Reflexionante na Construção do Sistema de Numeração Decimal. Educação Matemática Pesquisa, v. 12, n. 2, p. 310-334, 2010. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/emp/article/view/2814. Acesso em: 20 jan. 2021.

BRASÍLIA. Fundação Educacional do Distrito Federal (FEDF). Ofício Externo no186, de 23 dez. 1986. Encaminhado à professora Nilza Bertoni, Departamento de Matemática da Universidade de Brasília, pela professora Myrtes Mac Dowell, responsável pelo núcleo pedagógico da FEDF, 1986. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/222459. Acesso em: 25 abr. 2021.

BRASÍLIA. Secretaria de Estado de Educação. Currículo da educação básica das escolas públicas do Distrito Federal: curso normal em nível médio. 2. ed. Brasília: Subsecretaria de Educação Pública, 2002.

CARVALHO, Rosália Policarpo Fagundes. A aritmética no ensino primário de Brasília: 1957-1970. 2017. 226 p. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – Programa de Pós-graduação em Educação Matemática, Universidade Anhanguera de São Paulo, São Paulo, 2017.

GASPAR, Maria Terezinha et al. Os Currículos do Curso de Licenciatura em Matemática da UnB: da sua criação aos dias atuais. In: WORKSHOP DE VERÃO EM MATEMÁTICA, 12., 2020, Brasília. Anais[...]. Brasília, 2020.

MENEZES, Ebenezer Takuno de. Verbete Proformação (Programa de Formação de Professores em Exercício). In: Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2001. Disponível em: https://www.educabrasil.com.br/proformacao-programa-de-formacao-de-professores-em-exercicio/. Acesso em: 04 fev. 2021.

MUNIZ, Nancy C. Relatos de memórias: a trajetória histórica de 25 anos da Sociedade Brasileira de Educação Matemática. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2013.

PIRES, Célia Maria Carolino. Educação Matemática e sua influência no processo de organização e desenvolvimento curricular no Brasil. Bolema, ano 21, n. 29, p. 13-42, 2008. Disponível em: file:///C:/Users/DELL/Downloads/1715-Texto%20do%20artigo-7199-1-10-20080927.pdf. Acesso em: 1 mar. 2020.

SAVIANI, Demerval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007. (Coleção memória da educação).

SOUZA Mônica Menezes de; CARVALHO, Rosália Policarpo Fagundes; COSTA, Edilene Simões; BATISTA, Carmyra Oliveira. Uma estudante, uma professora: o vir-a-ser de uma expert em Educação Matemática. ENAPHEM - Encontro Nacional de Pesquisa em História da Educação Matemática, 4., 2018, Campo Grande. Anais [...]. Campo Grande, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufms.br/index.php/ENAPHEM/article/view/6535/5730. Acesso em: 01 fev. 2021.

SOUZA, Mônica Menezes de; BATISTA, Carmyra Oliveira. Sessão memória do IV ENAPHEM - Encontro Nacional de Pesquisa em História da Educação Matemática: textualização da entrevista com a professora Nilza Eigenheer Bertoni. In: SILVA, Maria Célia Leme da; PINTO, Thiago Pedro. (org.). História da Educação Matemática e formação de professores: aproximações possíveis. São Paulo: Livraria da Física, 2020. p. 229-251. (Coleção História da Matemática para professores).

VALENTE, Wagner Rodrigues. O saber profissional do professor que ensina matemática: história da matemática a ensinar e da matemática para ensinar em construção. In: DASSIE, Bruno Alves; COSTA, David Antônio da. (org.). História da Educação Matemática e formação de professores. São Paulo: Livraria da Física, 2018. p. 49-83. (Série História da Matemática para professores).

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Fontes consultadas

 

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BERTONI, Nilza Eigenheer. Educação e linguagem matemática 4: frações e números fracionários. In: Módulo V do Curso de Pedagogia para Professores em Exercício no Início de Escolarização (PIE). Brasília: UnB, 2002.

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BERTONI, Nilza Eigenheer; ALMEIDA, Cristina Vieira Mendes Osler de; OLIVEIRA, Raimunda de; OLIVEIRA, Ana Paula Santos de. Consolidando Saberes: Matemática para os 4º e 5º anos. Brasília: Universidade de Brasília, 2017.

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DIAS, Ana Lúcia Braz; BERTONI, Nilza Eigenheer. Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - Gestar II. Matemática: Caderno de Teoria e Prática 3 - TP3: matemática nas formas geométricas e na ecologia. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

DIAS, Ana Lúcia Braz; FARIA, Celso de Oliveira; BERTONI, Nilza Eigenheer. Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - Gestar II. Matemática: Caderno de Teoria e Prática 5 - TP5: diversidade cultural e meio ambiente: de estratégias de contagem às propriedades geométricas. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

FREITAS, Vera Aparecida de Lucas. (org.). Coleção pensar, fazer e aprender: caderno de apoio à aprendizagem. Língua portuguesa e matemática. Brasília: Universidade de Brasília, 2018.

MUNIZ, Cristiano Alberto; BERTONI, Nilza Eigenheer. Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - Gestar II. Matemática: Caderno de Teoria e Prática 1 - TP1: matemática na alimentação e nos impostos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

MUNIZ, Cristiano Alberto; FARIA, Celso de Oliveira; BERTONI, Nilza Eigenheer. Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - Gestar II. Matemática: Caderno de Teoria e Prática 4 - TP4: construção do conhecimento matemático em ação. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Faculdade de Educação. Projeto Curso de Pedagogia para Professores em Exercício no Início de Escolarização (PIE). Brasília: Universidade de Brasília, 2000.

 

Notas:

[1] Outras informações sobre esse projeto podem ser lidas no texto Os saberes matemáticos profissionais no Distrito Federal na década de 80 do século XX: projeto Um novo Currículo de Matemática da 1ª a 8ª séries. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1m7Ufco306uuEaZ2dsdTgbeiEoNb9Hm0_/view. Acesso em: 01 fev. 2021.

[2] A “matemática a ensinar” refere-se aos conteúdos disciplinares específicos e a “matemática para ensinar” é definida pelos conhecimentos específicos da ação docente, saberes que envolvem a função social da escola e da matemática, a didática, os métodos de ensino e as reflexões sobre os processos de ensino e de aprendizagem. (BERTINI; MORAIS; VALENTE, 2017).

 

Mônica Menezes de Souza

Rosália Policarpo Fagundes de Carvalho

Carmyra Oliveira Batista

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